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Gautama Buda estava
cercado por uma multidão que o insultava, usando palavras de baixo calão e
obscenas, porque ele era contra a religião organizada dos hindus e contra
a escritura sagrada hindu, o Veda, e condenou todo o sacerdócio, dizendo
que eles eram exploradores e parasitas. Naturalmente os brâmanes estavam
enfurecidos.
Aquela era uma vila de brâmanes,
pela qual ele estava passando, e os brâmanes o cercaram e disseram todo
tipo de coisa feia que podiam conceber. Ele ouviu em silêncio, e seus
discípulos ficaram com raiva, mas, porque Buda estava presente, não era
delicado dizer alguma coisa. O mestre estava muito silencioso como se
aquelas pessoas estivessem dizendo coisas amáveis.
Finalmente Buda lhes disse: "Se
vocês terminaram o que tinham a me dizer, gostaria de seguir em frente até
a próxima vila, onde pessoas estão me esperando. Mas, se não terminaram,
voltarei daqui a alguns dias e os informarei de que estou vindo. Então
terei tempo suficiente para escutar tudo o que vocês tem a me
dizer."
Um homem disse: "Você acha que
estamos dizendo alguma coisa? Nós estamos condenando você! Dá para
entender ou não? Porque qualquer outro ficaria com raiva e você aí em
silêncio..."
A declaração que Buda fez às
pessoas dessa vida foi imensamente significativa; ele disse: "Vocês
chegaram tarde demais. Se tivessem vindo há dez anos, quando eu era tão
insano quanto vocês, não teria ninguém vivo aqui".
Dez anos atrás ele era um
príncipe, um guerreiro, um dos melhores arqueiros de seu tempo, um grande
espadachim, e aqueles brâmanes... ele poderia simplesmente cortar a cabeça
deles com um único golpe, sem nenhuma dificuldade, pois aqueles brâmanes
nada sabiam de espadas, de arcos ou de ser um guerreiro. Ele os teria
cortado como se fossem vegetais.
Ele disse: "Vocês chegaram
tarde. Se tivessem vindo há dez anos... mas agora não sou mais insano, não
posso reagir. E gostaria de lhes fazer uma pergunta. Na última vila, as
pessoas vieram com doces, frutas e flores para me receber. Mas comemos
apenas uma vez por dia e já tínhamos comido e não carregamos coisas. então
precisamos lhes dizer: "Por favor, perdoem-nos, não podemos aceitar doces,
flores... Aceitamos o seu amor, mas vocês terão de ficar com essas
coisas". Quero lhes perguntar", ele disse à multidão enraivecida, "o que
eles deveriam fazer com os doces e as flores que trouxeram para nos
presentear?"
Um homem respondeu: "Que
mistério há nisso? Eles deveriam distribuir os doces pela
vila".
Buda disse: "Isso me deixa
triste. O que vocês farão? Porque não aceito o que vocês trouxeram, da
mesma maneira que não aceito os doces, as flores e as outras coisas que as
pessoas me trouxeram na outra vila. Se não aceito suas obscenidades, suas
palavras sujas, se não as aceito, o que vocês poderão fazer? O que vocês
farão com os lixos que trouxeram? Vocês terão de levá-los de volta a seus
lares e dá-los as suas esposas, a seus filhos, a seus vizinhos. Vocês
terão de distribuí-los, porque simplesmente me recuso a pegá-los. E vocês
não podem me deixar com raiva, a menos que eu aceite a sua humilhação, o
seu insulto.
"Dez anos atrás eu não era
consciente; se alguém tivesse me insultado, perderia imediatamente a vida.
Eu não tinha ideia de que me insultar era problema dele e que eu nada
tinha a ver com isso, mas agora posso simplesmente ouvir e seguir meu
caminho."
(extraído do capítulo O Guerreiro
Pacífico, do maravilhoso livro Buda - sua vida
e seus ensinamentos. Osho, Editora
Cultrix, São Paulo, 2006)
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