A simbologia da história de Ganêsha



A simbologia da história de Ganêsha

                        Ganêsha é filho de Shiva e Parvati. O nome deriva da combinação das palavras sânscritas gana (demónio, exército) e isha (Senhor) = Ganêsha - Senhor dos exércitos de demónios de Shiva.
O mito de Ganêsha, escrito nos purána[1], conta que Shiva, após uma longa ausência nas montanhas, regressou e encontrou um guardião de sua esposa Parvati, com ordem para não deixar passar ninguém sem autorização de Parvati. Todos os outros guardiães desobedeciam quando quem se tratava do Mahêshwara Shiva querendo entrar em sua própria casa. Parvati decidiu, então, arranjar um guardião que só lhe obedecesse e a mais ninguém.
Tal como fazem os deuses, a partir do barro, matéria, amassada com o orvalho do seu corpo, insuflou-lhe vida e criou um filho. Este era o seu guardião pessoal, o seu dwarapala – o porteiro. Quando Shiva regressou da montanha, o porteiro opôs-se à entrada deste. O menino impediu a passagem do seu senhor e pai.
Nada do que Shiva lhe disse o demoveu. Chegou a agredir Shiva. Parvati tomava banho e o menino tinha ordens para não deixar entrar ninguém. Seguiu-se uma luta feroz, épica, lendária, entre o exército de bhutaganas de Shiva e Ganêsha, que lutou contra todos os demónios do pai, vencendo-os. Vishnu, outro deus da trindade hindu interveio contra Ganêsha, mas também a derrota foi o que obteve.
Até que então Shiva o matou com a trishula, separando-lhe a cabeça do corpo. Parvati, ao ver seu filho morto, ameaçou destruir todo o mundo. Shiva deu, então, ordem aos seus gana que procurassem na floresta e lhe trouxessem a cabeça do primeiro animal vivo que encontrassem no caminho. Foi um elefante que encontraram. Shiva colocou a cabeça desse elefante no corpo do menino e ressuscitou-o. Reconheceu-o como seu filho e deu-lhe o nome de Ganêsha.
                        É conhecido como Gâjanana – cara de elefante, mas também como Gânapati – o senhor dos gana.
                        É o deus dos letrados e da inteligência. É representado com um só dente, pois foi ele que escreveu o Mahábharata. Vyassa, o autor da obra, contou a história e Ganêsha, para que não se perdesse, partiu uma das suas presas e com ela foi escrevendo. É o deus da inteligência porque participa das duas criaturas mais inteligentes, o homem e o elefante.
                        Várias vezes deu provas da sua inteligência.
                        Quando Shiva e Parvati tiveram de decidir qual dos filhos casaria primeiro, Ganêsha ou o seu irmão Skanda, comunicaram-lhes que aquele que desse primeiro a volta ao mundo seria o primeiro a casar. Subrahmanya, outro dos nomes de Skanda, imediatamente partiu veloz como o vento.
Ganêsha, pesado, corpulento, com uma grande barriga e incapaz de vencer o irmão em proezas atléticas, primeiro saudou, respeitosamente, os pais e só então é que se dispôs a cumprir a sua obrigação.
E iniciou uma caminhada em torno de Shiva e Shaktí, no sentido dos ponteiros do relógio (prakshina), dando sete voltas em torno dos destes. Ao terminar, os pais perguntaram-lhe: - porque fazes isso?
E Ganêsha respondeu-lhes: - Não sois vós o Universo? E não dizem os Vêda que aquele que faz sete prakshina em torno dos pais tem mais valor do que os que dão sete voltas ao mundo? E ganhou a competição com o irmão, casando primeiro.
                        É o senhor dos obstáculos, podendo ajudar-nos a ultrapassá-los ou a dificultar-nos todas as tarefas. Como senhor da porta, é também o guardião dos mistérios. É o senhor do labirinto – o labirinto de nadí existente no nosso corpo e que a energia serpentina terá de atravessar.

                        Shiva corta a arrogância ignorante do filho, que apenas quer cumprir o swádharma. Pelo qual deixa de reconhecer a substância primordial – Shiva. O pai admira a sua coragem, tenta tudo para o iluminar, mas não pode deixar a ignorância vencer. E então Ganêsha morre para a vida profana. Renascendo para a sabedoria e a iluminação.

(C)Copyright,  João Camacho, Yôgachárya


[1] “Os Puránas (as Antigas Crónicas) são textos longos, semelhantes à Bíblia, nos quais foram transcritas e resumidas traduções orais que remontam a um período longínquo como, por exemplo, a história do dilúvio, a domesticação do fogo, as migrações dos povos.

Esses textos contêm elementos históricos e geográficos, genealogias que vão, às vezes, até ao sexto milénio a. C., relatos mitológicos, ensinamentos rituais ou técnicos (medicina, arquitectura, pintura, música, dança, etc.) ensinamentos filosóficos, códigos sociais e morais. Formam verdadeiras enciclopédias.» in Danielou, Shiva e Dionoso, p. 33.