Quem é Lilith? De Demônio Noturno a Ícone Feminista!
Hoje a gente vai mergulhar em um dos mistérios mais pedidos por vocês, um tema que está bombando em todo lugar, desde a igreja até o TikTok: Lilith, a suposta primeira mulher de Adão.
Vocês estão prontos para desvendar essa história? Fica comigo até o final, porque a jornada é longa e cheia de reviravoltas!
Pra entender essa personagem enigmática, a gente precisa voltar lá no começo, no livro de Gênesis. Calma, não pula o vídeo! Essa parte é crucial para desvendar o mistério.
No primeiro capítulo, a Bíblia nos diz que Deus criou o homem e a mulher praticamente ao mesmo tempo. "Homem e mulher ele os criou". Parece simples, né? Mas a coisa complica no capítulo seguinte, Gênesis 2, onde a história da criação recomeça com uma ordem diferente.
Nessa segunda versão, Deus primeiro modela o homem do barro. E só depois, ao perceber que o homem estava sozinho, Ele tira uma costela dele para criar a mulher.
Foi aí que Adão exclama: "Esta sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne!". Perceberam a diferença? Na primeira, homem e mulher surgem juntos. Na segunda, o homem vem primeiro, e a mulher, depois, a partir dele.
E é exatamente aqui que a história de Lilith começa a se encaixar! Intérpretes antigos da Bíblia ficaram intrigados com essa aparente contradição.
Para conciliar as duas narrativas, mas sem abrir mão da leitura literal, eles pensaram: e se a primeira história falasse de Adão e de outra mulher? Uma mulher que não foi criada da costela dele, mas sim do mesmo barro, em pé de igualdade. Essa mulher, meus amigos, seria Lilith.
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Mas a pergunta que não quer calar é: de onde veio essa personagem? O nome Lilith aparece na Bíblia? A resposta é sim, mas em um lugar inesperado: o livro de Isaías, capítulo 34. Lá, em uma profecia sobre o reino de Edom, a palavra "Lilith" aparece. Curiosamente, muitas traduções da Bíblia substituem esse nome por termos como "animais noturnos" ou "coruja", mas no hebraico original, ela está lá: Lilith.
É fascinante como as traduções antigas já mostravam essa variação. A Septuaginta, uma tradução grega anterior a Cristo, a transformou em um "Onokentauros", uma criatura meio homem, meio bode.
Já a Vulgata, uma tradução latina do século IV d.C., a chamou de "Lâmia", uma figura sedutora e devoradora de bebês da mitologia greco-romana. E acreditem ou não, essa última tradução não está tão longe das características mais associadas a Lilith em outras culturas: sedução e ataque a bebês.
Mas o mito original de Lilith não vem da Grécia ou de Roma. Ele vem da Mesopotâmia! A palavra "Lilith" (ou "Lilitu" e "Lilu" para a forma masculina) aparece em textos mesopotâmicos desde 3000 a.C.. Eles se referem a espíritos ou monstros do deserto que causavam febre, delírio e até a morte.
Um exemplo super interessante é o "Poema de Gilgamesh e a Árvore Ulupu", de cerca de 2000 a.C. Nele, Gilgamesh enfrenta uma "Lilac" (provavelmente uma variante de Lilith) que se apoderou de uma árvore sagrada da deusa Inanna.
A história conta que um dragão fez ninho na base, um pássaro gigante na copa, e uma Lilith fez sua casa no tronco. Gilgamesh, para agradar Inanna, mata o dragão, e a Lilith, apavorada, foge para o deserto, onde passa a viver.
Além das narrativas, o nome de Lilith aparece em amuletos e objetos usados para afastar maus espíritos. Um tablete fenício-cananeu, por exemplo, diz: "Ó voadora no quarto escuro, saia de uma vez ó Lilith".
Essas palavras eram usadas em encantamentos para proteger partos e evitar a morte de mães e bebês.
Esse mesmo objeto, inclusive, mostra uma representação visual de Lilith como uma esfinge alada.
Existe também o famoso relevo de Burney, ou "Rainha da Noite", encontrado no Iraque em 1924, datado de quase 4 mil anos atrás.
Ele mostra uma figura alada com pés de ave, acompanhada por corujas e leões, criaturas da noite. Embora não haja certeza se é Lilith, Ishtar ou Ereshkigal (a Rainha do Submundo), o fato é que Lilith, ou as Liliths, eram muito presentes no imaginário da Mesopotâmia, influenciando culturas vizinhas, como a judaica.
Até agora, vimos a Lilith como criatura do deserto em Isaías, mas cadê a Lilith mulher de Adão? A história mais antiga que desenvolve essa ideia está em um texto judaico medieval chamado "Alfabeto de Bensira".
Segundo ele, no início, Deus criou Adão e Lilith do mesmo solo. Mas eles começaram a brigar imediatamente, especialmente sobre a posição sexual. Lilith se recusava a ficar por baixo, afirmando: "Nós dois somos iguais, já que ambos viemos da terra".
Como nenhum cedia, Lilith pronunciou o nome sagrado de Deus e voou para o Mar Vermelho, onde se juntou a espíritos malignos e teve milhares de filhos. Adão, abandonado, clamou a Deus, que enviou três anjos – Sanoi, Sansenoi e Samangeloth – para trazê-la de volta. Os anjos a ameaçaram: ou ela voltava, ou cem de seus filhos morreriam a cada dia.
Lilith se recusou e, diante da ameaça de ser afogada, revelou: "Eu fui criada apenas para causar doenças em bebês".
Ela disse que teria domínio sobre meninos por oito dias (antes da circuncisão) e sobre meninas por vinte dias. Mas os anjos insistiram, e Lilith fez um juramento: ela aceitaria perder cem filhos por dia e, ao ver os nomes dos três anjos, não faria mal a nenhum bebê.
Essa história, além de outras coisas, explicava o costume judaico de usar amuletos com os nomes dos anjos para proteger os bebês.
E não parou por aí! Um rabino do século I d.C. dizia que um homem nunca deveria dormir sozinho em casa, pois Lilith poderia se apoderar dele. Isso tinha um sentido sexual, já que as "visitas noturnas" de Lilith eram usadas para explicar emissões noturnas, que na Europa medieval eram atribuídas a demônios sedutores como íncubos e súcubos, para fertilizá-los e permitir sua reprodução.
Outra prática anti-Lilith era a produção de vasilhas com encantamentos. Encontradas principalmente na Babilônia, essas vasilhas com escritas em aramaico buscavam afastar o mal de Lilith. Algumas até continham "fórmulas de divórcio" para desligar esses espíritos dos moradores da casa.
Chegamos a um ponto crucial da nossa história: como essa figura, associada à morte infantil e a tabus sexuais, se tornou um ícone positivo? A resposta está no feminismo judaico, um movimento que surgiu com a segunda onda do feminismo nos anos 60 e 70.
Para elas, a história de Lilith, uma mulher criada em pé de igualdade com o homem e que se recusava à submissão, era extremamente poderosa.
Em 1972, a teóloga feminista Judith Plaskow publicou uma reinterpretação do "Alfabeto de Bensira". Na visão de Plaskow, Lilith não era maligna, mas sim uma mulher que escapou do Éden para fugir da opressão de Adão.
As calúnias sobre ela ser promíscua e devoradora de crianças seriam, na verdade, uma campanha difamatória de Adão. Para Plaskow, Lilith representava uma mulher forte e livre, vítima da demonização masculina.
Essa positivação da figura de Lilith foi tão significativa que, em 1976, foi criada uma revista feminista judaica chamada "Lilith", que existe até hoje!
Então, como vimos, a Lilith tem múltiplas faces ao longo da história: a Lilith dos textos sumérios, a Lilith de Isaías, a Lilith dos amuletos e vasilhas, a Lilith como a primeira mulher de Adão, e a Lilith feminista.
E ainda existem outras que nem deu para abordar aqui, como a Lilith da Cabala, da Wicca e do neopaganismo.
É uma história complexa e fascinante, não é mesmo? Espero que essa síntese tenha ajudado a entender de onde vem essa personagem e a ideia de que ela foi a primeira mulher de Adão.
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